
Esporte, história e cultura

Na Alemanha, o Führer limitou-se a não apertar sua mão, tal como fez com qualquer outro atleta de outra nacionalidade que não a alemã, abandonando o estádio antes da cerimônia de entrega de prêmios e enviando-lhe um retrato assinado alguns dias depois. Em contrapartida, o presidente Roosevelt e o seu sucessor, Harry Truman, simplesmente ignoraram completamente o atleta vencedor. Foi preciso esperar pelo presidente Gerald Ford, em 1976, para que os seus feitos recebessem o merecido reconhecimento, tendo-lhe sido atribuída a Medalha da Liberdade, a condecoração civil mais importante dos Estados Unidos. Este momento passou a fazer parte do imaginário comum como um dos momentos que mais marcaram a história da cultura ocidental.

Apesar de, nas entrevistas que se seguiram, não ter perdido a oportunidade de se apresentar com o seu nome verdadeiro e como atleta coreano (com tudo o que essa posição implicava), foi necessário esperar pelo verão de 1988 para assistirmos à sua redenção final. Na cerimônia de abertura dos Jogos de Seul, quase com oitenta anos de idade, o atleta entrou correndo no lotado estádio de Seul, carregando a tocha olímpica e usando uma camiseta com o símbolo da Coreia do Sul. "Agora posso morrer em paz," diria ele nesse dia, assim que chegou a casa.
Gino Bartali "salva" a República Italiana
Apesar dos apelos à calma por parte dos representantes do Partido Comunista Italiano e do próprio Togliatti (que sobreviveu ao atentado), a maioria dos jornalistas e fotógrafos italianos que acompanhavam a competição francesa de ciclismo estavam voltando para a Itália, principalmente porque os atletas não tinham grandes esperanças na vitória. Muitos escreveram que Gino Bartali, vencedor do mesmo Tour dez anos antes, com os seus 34 anos de idade, era decididamente "demasiado velho" para voltar a ganhar a prova. O próprio De Gasperi chamou Gino Bartali na noite do atentado para lhe pedir que vencesse "porque o país estava mergulhado numa grande confusão".

"Entretanto, todos os italianos permaneciam colados ao rádio para acompanhar a emoção crescente deste épico feito de ""Ginettaccio"", parecendo colocar de lado as suas facções políticas. O orgulho pela inesperada recuperação e os triunfos do capitão da equipe, que nesse ano subiria pela segunda (e última) vez ao pódio, ajudou decisivamente a diminuir a tensão, a recriar um sentido de unidade e a apaziguar os ânimos e as violentas confrontações de rua."
O esporte contra o racismo
